Campo do América tem o zelo da comunidade


Passados menos de dois meses da inauguração, o Campo do América, localizado no bairro do Meireles, tem revelado não apenas craques do futebol, como também a capacidade de se transformar sonhos em realidade pela mobilização dos seus moradores. Reformado e qualificado desde junho passado pela Prefeitura de Fortaleza, o equipamento passou a reunir projetos sociais para inserção de jovens em situação de vulnerabilidade, dispôs de uma área de lazer para toda a área e o seu entorno, funciona como arena esportiva e, principalmente, devolveu o orgulho à comunidade, que viveu décadas de tensões e ameaças de despejos.
Do antigo campo da areia ao do gramado sintético da atualidade, afora outros benefícios, o entusiasmo pela conquista de um local bem aparelhado para a prática do esporte toma conta de seus moradores, estimados em cerca de 1.000 famílias, que ocuparam terrenos desde a Rua Costa Barros até a Rua Deputado Moreira da Rocha. A empolgação é incontida pelo cuidador do campo, Renato Sena, de 41 anos. Nascido e criado na área, ele diz que o "Campo do América é hoje o coração da comunidade". A explicação é diversa, conforme diz, embora possa começar pelo respeito que se passou a adquirir com o espaço, atraindo moradores dos condomínios antes isolados.
Projetos
Ele destaca, sobretudo, a possibilidade de se desenvolver projetos sociais para jovens em situação de risco, afastando de perigos como as drogas. No local, é desenvolvido na atualidade o Projeto Atleta Cidadão, que reúne 175 jovens, na faixa etária de 8 a 17 anos, sendo 127 meninos e 43 meninas. Também funciona para exercícios físicos, incluindo idosos, nas terças e quintas-feiras. Nas manhãs das segundas-feiras, é local para um bate bola entre oficiais da Polícia Militar. Já nos fins de tarde, é utilizado para a prática do cooper.
O aposentado José Paulo Rocha é quem também comemora o novo espaço. Residente na Avenida Dom Luís, diz que ainda pratica o cooper e passou a encontrar um local seguro desde a inauguração.
"Aqui, todo mundo é um cuidador do campo. Se evita a depredação e, mais do que isso, é a própria comunidade se tornou vigilante contra atos marginais", disse José Paulo. Para ele, o que aconteceu é mais uma manifestação de como pessoas simples passaram a valorizar suas conquistas, sabendo que é assim que se firma ainda mais o respeito.
Desocupação foi ameaça constante
Preconceito e discriminação foram marca do passado e podem ser até ainda do presente, segundo o morador Renato Sena. No entanto, o que está definitivamente extinto é a tensão que existia de desocupação das famílias do entorno do campo.
"Todo ano aparecia aqui um comprador. Uns diziam que o local seria utilizado para a construção de um hospital. Outros falavam em mais um condomínio de luxo. Mas o desfecho somente se deu de 2013 para cá", lembra Luciano Sena.
A área chegou a pertencer ao time do América, já extinto, e foi penhorado para quitar dívidas junto ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). De acordo com o Plano Diretor de Fortaleza, o Campo do América está em uma área de Zona Especial de Interesse Social 1 (Zeis 1), o que facilitou a redução dos custos de aquisição pela administração municipal em até 80%.
A aquisição do terreno representou um investimento de R$ 2,8 milhões, pagos com recursos da Prefeitura de Fortaleza. Já as obras de urbanização foram orçadas em R$ 988.291,00, sendo metade financiada pelo governo do Estado e a outra metade pela Prefeitura de Fortaleza.
O local, que antes possuía apenas um campo de areia, recebeu, dentre outros benefícios, gramado sintético, dois bancos de reserva, arquibancadas, redes de proteção, alambrados, dois vestiários, iluminação, paisagismo, pavimentação, sala de administração e piso podotátil.
Enquete
Como o novo espaço mudou o seu cotidiano?
"Acho que houve um respeito maior. Isso porque se dizia que aqui havia muitos marginais. Hoje, temos uma área frequentada por diferentes grupos da sociedade local"
Rosilene Sousa da Cruz
Atendente
"Aprendemos a valorizar essa conquista, que levou décadas. Toda a comunidade passou a ser cuidadora. Queremos preservar o equipamento da forma como foi entregue para nosso uso"
Francisco Gomes da Silva
Aposentado
Marcus Peixoto
Repórter