Chuvas devolvem os banhos na Bica das Andreias
Pacatuba. Do alto da Serra da Aratanha, neste Município, a água escorre do Açude Boaçu, que na linguagem Tupi significa "cobra grande", e serpenteia até o sopé. Esse é um cenário de encantamento das águas, que caem nas bicas e promovem a alegria de quem procura o Balneário da Bica das Andreias.
> Aratanha reúne santuário natural
> Encenação da Paixão tem últimos acertos
Nos últimos meses, a frequência de banhistas tinha praticamente sumido. Isso porque as fontes de água haviam secado praticamente, trazendo um desalento tanto para quem visitava pela primeira vez o Município, distante 30 quilômetros de Fortaleza, quanto de moradores e usuários pontuais, que apreciam o lazer favorecido pelo clima ameno, a vegetação vasta e água gelada que escorre pelas pedras da serra.
No entanto, com as chuvas caídas de janeiro para cá, o cenário de deslumbramento foi retomado, não apenas nos fins de semana, mas sempre que a força das bicas se torna mais intensa, em decorrência das precipitações que se intensificaram na semana passada na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e em algumas cidades do Interior do Estado.
Alternativa
Foi com essa conjunção de atrativos que a operadora de caixa Rose Barbosa, 36, foi com o marido e uma amiga aproveitar a segunda-feira passada, quando estava de folga, para o lazer na Andreias. "Tudo isso é um encanto. A vegetação, o clima, a água gelada. É algo que a gente não pensa que está numa região tão seca e tão necessitada de água", disse a comerciária.
Para o comerciante Paulo Roberto Gonçalves, residente em Fortaleza, mas natural de Paramoti, o passeio pelas serras cearenses é uma alternativa para quem quer fugir do circuito de praias. Ele diz que o clima é muito agradável neste período do ano, em vista do calor e da carestia que se enfrenta em barracas de praia instaladas na orla marítima da Capital.
"Infelizmente, a carestia tem afastado boa parte da população da praia, porque ninguém mais suporta a exploração", afirma Paulo Roberto. Nas Andreias, elogia, sobretudo, os preços cobrados pelos produtos. A entrada custa R$ 4 por pessoa e R$ 2 para as crianças.
Um peixe da espécie de tilápia com baião de dois e batatas fritas custam R$ 25, numa porção para duas pessoas. Também são cobrados R$ 3 pela latinha de cerveja, R$ 10 por dois litros de refrigerante e R$ 7 por um litro.
Importância
Para o historiador e diretor do Museu Histórico de Pacatuba, Antony Fernandes, há um valor sentimental e cultural para Pacatuba em torno do balneário. Ele diz que, graças ao equipamento, a cidade se tornou uma referência na oferta de um tipo de lazer diferenciado, com uma capital vocacionada para atividade praiana.
Com isso, lembra que a movimentação em torno das bicas somente foi aumentando ao longo do tempo. A atual estrutura, com área de estacionamento, quiosques e bancos para piqueniques foi introduzida ainda na gestão do então prefeito Walter do Carmo Filho, conhecido por Waltinho, em 1982.
Melhorias
De lá para cá, conforme lembra Antony, a bica foi vivendo momentos de altos e baixos. Um dos fatores negativos vivenciados nos últimos tempos foi o afastamento dos banhistas, como consequência dos anos seguidos de seca. Também considera como algo não muito positivo a construção de uma murada em torno do Açude do Boaçu, com um corrimão de PVC, que para ele destoa da interação que se tem com a natureza.
Enquanto isso, considera louvável a preservação ambiental, já que a Serra da Aratanha é um encrave de Mata Atlântica no Semiárido nordestino.
Em relação à insegurança, acredita que não são episódios tão lamentáveis, apesar da extensa área e das trilhas, que são percorridas muitas vezes por pessoas sem muita habilidade e conhecimento dos roteiros.
Origem
Antony conta que o nome Bica das Andreias remete às herdeiras da área do entorno do balneário. Originalmente, esse terreno pertenceu aos portugueses Francisco José de Arruda e ao seu filho João José, de acordo com escritura lavrada em cartório de Maranguape, em setembro de 1855. Uma placa alusiva ao fato histórico está firmada num dos acessos à principal trilha.
Depois, o terreno foi adquirido pelo comerciante André Lopes, que, ao morrer, deixou a propriedade para suas filhas Ambrosina e Maria do Carmo, mulheres de muitos pendores culinários, que ficaram conhecidas pelas guloseimas e doces vendidos nas festas de padroeiras e de santas celebradas pela comunidade católica local, como a Nossa Senhora do Carmo e Nossa Senhora da Conceição. "Como eram filhas de André, o povo passou a associar o terreno às Andreias, que residiam próximo à Praça Capitão Henrique, e assim foi perpetuado pelo tempo", conta Antony.
Acidente
De uma pacata cidade do interior cearense, Pacatuba já ganhou páginas de jornais de quase todo o mundo, por conta da queda de um avião comercial, quando morreram 137 pessoas, em 8 de junho de 1982. Dentre os mortos, estava o chanceler Edson Queiroz.
Na lembrança dos antigos moradores da cidade, o episódio até hoje é lembrado com grande pesar, como afirma Célio dos Santos. A dor e o drama causados pela tragédia atrairam jornalistas, estudiosos em Aeronáutica e investigadores. A rotina de marasmo do lugar foi rapidamente transformada em lugar onde a perplexidade pelo acidente se misturava com a incapacidade da população em relação àqueles que mais estavam sofrendo pelos seus mortos. O tempo passou, mas a cidade guarda em sua história as marcas desse grande momento de luto.

