Seca e crise econômica travam negócios de engenhos de cana


Pindoretama. Bastante identificados com a cultura nordestina, os engenhos são um dos atrativos para os visitantes que chegam ao Ceará. Na CE-040, que dá acesso às praias do Litoral Leste, também se instalaram esses pequenos negócios, que durante muito tempo prosperam com a venda da rapadura, batida, açúcar mascavo e o caldo da cana. Hoje, a crise se abateu fortemente no segmento, com um amargor se sobrepondo sobre o doce sabor dos produtos.
>Usina em Barbalha tem histórico de fracasso
Para aqueles que buscam os prazeres da vida sem se expor a muitos sacrifícios, existe até um ditado que, "se a rapadura é doce, não é mole". No ramo dos engenhos, há uma realidade dura e amarga vivida por muitos negociantes, que têm uma lembrança de quando os pequenos estabelecimentos não eram fonte de riquezas, mas garantiam a subsistência das famílias e alegria por receber os turistas e difundir as doçuras saídas dos tachos quentes, da moagem da cana e no corte retangular das rapaduras, símbolos da culinária regional e remontando à economia colonial.
Falência
O declínio do negócio é a realidade atual de César Ribeiro, proprietário do engenho Canadá, localizado no quilômetro 40 da rodovia. Ele conta que foi pioneiro na venda de rapaduras com gostos diferenciados. Também quis criar um museu do produto. O resultado de todos os projetos e sonhos foram grandes prejuízos econômicos, depressão e, por muito pouco, não foi atingido pela falência.
César conta que fez uma série de apostas equivocadas. A expansão do engenho com o museu, que não saiu do croqui, demandou dinheiro e decepções com o arquiteto de má índole. Foi vítima de assaltos e da ação ostensiva da Receita Federal, com cobranças de impostos impossíveis de obter com a queda das vendas.
Atualmente, pensa em fechar o negócio, apesar de reunir também as melhores lembranças de quando o empreendimento empregava pessoas e era um centro de atenção dos turistas, que passavam a conhecer algo diferente da cultura regional, apesar da rusticidade e da ambição primária de um pequeno negócio.
Sucesso
Embora o comércio de derivados da cana, especialmente os não alcoólicos, já não seja tão promissor quanto foi no passado, há também quem resiste e não lamenta os dias atuais. Esse é o caso de Lindalva dos Santos Pereira, proprietária do engenho São Luiz, em Aquiraz.
Lindalva conta que a movimentação dos turistas já não é como no passado, assim como não é igual aos outros tempos a grande oferta da matéria-prima, que garantia não apenas a produção para os visitantes, como também atendia o atacado, como supermercados, mercadinhos e mercearias.
Ainda hoje esse filão é o que assegura maior volume de vendas. No entanto, Lindalva disse que foi fundamental instalar uma lojinha. Ou seja, como o turista tinha e ainda tem curiosidade para conhecer o mundo do engenho, notório na literatura nacional, passava a contar com o atrativo de um ponto comercial para a venda de derivados da cana de açúcar e até de artigos artesanais.
A comerciante admite que a seca foi fatal para a redução da produtividade do setor voltada para o atacado. Os fardos de rapaduras destinadas a estabelecimentos, não apenas do Ceará, mas de outros estados nordestinos e até do Norte passaram a necessitar da importação da cana para manter a produção. Desse modo, a tonelada de cana passou dos R$ 80, cobrados por produtores da região, para R$ 200, de acordo com a tabela determinada em estados vizinhos do Nordeste.
Continuidade
Trabalhador mais antigo do engenho Complexo Tradição, Ivanilson Ribeiro da Costa, conhecido como Maninho, é pessimista com relação ao futuro. Além da crise econômica, da seca e da falta de estímulo do poder público para melhor divulgar o trabalho junto aos turistas, ele acha que a atividade está fadada ao desaparecimento.
A principal explicação, segundo ele, é a falta de trabalhadores para o ofício. Ele lembra que as novas gerações não se interessa pelo serviço e muitas funções deixam de ser executadas por falta de mão de obra. "É uma pena, porque estamos numa atividade mais tradicional e que mais lembra a nossa cultura", afirmou.