Unilab desafia crise no seu quinto ano

por Marcus Peixoto - Repórter
Ao celebrar seu 5º aniversário, a Unilab convive, ainda, com sérias dificuldades. Uma delas é a afirmação do negro dentro e fora da universidade ( Fotos: Thiago Gadelha )
A falta de recursos, que atingiu as grandes universidades públicas, também afetou aquela que ainda está se estruturando, com campus, equipamentos e administração

Redenção. A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), com um campus instalado neste município, distante 63 quilômetros de Fortaleza, surgiu com um projeto ambicioso. Além de expandir o ensino superior para as cidades interioranas do Ceará e da Bahia, especificamente do Maciço do Baturité do Recôncavo Baiano, sua principal meta era também formar estudantes de língua portuguesa da África e Ásia.

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A ideia levou cerca de uma década, mas a consecução é comemorada agora. Funcionando desde 20 de julho de 2011, completa cinco anos de existência. A concepção desse projeto se deu, inclusive, quando o Brasil era bem diferente do atual. O País não se afetava com a crise econômica internacional e havia um protagonismo brasileiro reconhecido, não apenas entre os países em desenvolvimento, mas dentre os desenvolvidos. Com essa liderança e com os bons ventos da economia, o Brasil se propôs a criar uma universidade federal que também promovesse a integração brasileira com os países de Língua Portuguesa.

Essa diferença de que como foi no início e como é hoje faz o reitor pró-tempore, Tomaz Aroldo da Mota Santos, imaginar a dificuldade de como seria a implantação dessa universidade, obedecendo os mesmos princípios, nos dias atuais. A falta de recursos, que atingiu as grandes universidades públicas, também afetou aquela que ainda está se estruturando, com campus, equipamentos e administração.

Êxito

Com todas as adversidades, Tomaz Aroldo é um entusiasta da Unilab. Para ele, o êxito pode ser avaliado e medido em vários aspectos, na criação de novos cursos, elaboração de pesquisas, aumento de receitas nas cidades e, um aspecto bem particular para o reitor, na alegria manifesta dos seus alunos.

Em termos gerais, vê que a realidade não é dissonante da missão teórica, que é a internacionalização e a interiorização do ensino superior, para que, por meio do ensino, pesquisa e extensão, se promova a construção e o intercâmbio de saberes.

Com os negros, que formam a maioria étnica da universidade, vieram experiências, vivências, queixumes e escândalos. Os mais notórios envolvem casos de estupro. O primeiro, que não chegou ao conhecimento da Polícia, aconteceu em 2013. O último foi no sábado passado e conta com acompanhamento da Delegacia Municipal de Redenção.

Assédio

O caso não se deu nos limites do campus, mas ganhou notoriedade porque vieram à tona que o assédio e o estupro eram práticas recorrentes, envolvendo não apenas as alunas, mas as professoras. O acusado foi preso e depois teve a prisão relaxada por decisão judicial.

Tomaz Aroldo disse que o caso, mesmo ainda em processo de investigação, já deixa lições. A primeira delas será a de levar o assunto para a reunião do Conselho Universitário, que ocorrerá no próximo dia 29.

Na ocasião, irá propor ações educativas e punitivas. Ele lembrou que o caso se deu fora da Universidade e não é algo incomum no País, embora reconheça que deva existir uma ação incisiva contra a cultura do estupro.

Tomaz Aroldo disse que se deve evitar a generalização com os alunos de origem africana, continente que tem uma diversidade de países e etnias, bem como considerar o raio limitado da Universidade para impor normas de conduta além dos limites do campus. "Esse caso não pode ser reputado a uma cultura. O que fizemos de imediato foi dar apoio psicológico e tranquilizar toda a comunidade", disse.

O caso de estupro de alunas é tabu entre as mulheres de origem africana. Em contato com a reportagem, muitas pedem para não serem identificadas. Uma estudante considerou a manifestação da quarta-feira passada exagerada e que expõe ainda mais o preconceito com os alunos provenientes daquele continente, onde em alguns países se celebra o Dia do Homem, que permite liberdade sexual radical ao gênero masculino às sextas-feiras. . "Não estou do lado nem da vítima nem do acusado. Estou do lado dos estudantes de Guiné Bissau", disse uma estudante.

Dificuldades

Afora o ufanismo, a realidade tem sido dura. Em cinco anos, já passaram pela Unilab quatro reitores. Para Thomaz Aroldo isso não implicou em descontinuidade de trabalho, mas apenas na mudança de estilo.

Com a contenção de verbas desde o fim do governo da presidente afastada Dilma Rousseff, a Universidade não pôde concluir a conclusão das residências e nem o restaurante universitários do campus de Acarape.

Mas a pior de todas as dificuldades é a de adaptação dos estudantes estrangeiros. Natural de Guiné-Bissau, Anete Mendes, 26, conta que, passados dois anos e seis meses em Redenção, ainda sente dificuldades. Começou com a mudança de hábitos alimentares e se agravou com o preconceito contra o negro e, especialmente, contra o africano.

"O racismo não encontrei apenas fora da Universidade. Da mesma forma como as pessoas olhavam de forma estranha e até desconfiada quando entrava numa loja, aqui foi muito mais explícito, inclusive com agressão", conta Anete. A estudante diz que ainda fica perplexa como muitas pessoas pensam que a África é um país que só tem gente pobre e que os habitantes vivem na selva, como animais.

Para o reitor, há muito mais a considerar sobre a Unilab e o que representa para Redenção, Brasil e os países de Língua Portuguesa atendidos pela instituição. No caso de Redenção, observa que, ao mesmo tempo em que há na cidade um déficit urbano para corresponder ao campus. "Hoje, há um aporte de, pelo menos, R$ 60 milhões em salários na cidade. Isso se traduz em crescimento do mercado imobiliário, do serviço de comércio e serviços", observa.

Redenção também tem um papel de protagonismo importante para a Unilab, em vista de que a escolha do município se deu também pelo pioneirismo no Brasil com a abolição da escravatura. Já o Brasil ganha em afirmação com o fato de que promove o desenvolvimento por meio da colaboração, da pesquisa e do intercâmbio cultural.

Atualmente, conta com cerca 3 mil alunos, distribuídos pelos Campus da Liberdade, em Redenção; Unidade Acadêmica dos Palmares, em Acarape; das Auroras, em Redenção; e Campus dos Malês, em São Francisco do Conde, na Bahia. A Unilab oferece uma grade voltada para assuntos prioritários para Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné Bissau, tais como Administração Pública, Agronomia, Ciências Humanas, Ciências e Matemática, Enfermagem, Engenharia de Energias e Letras.

Marcus Peixoto

Bruno Prior é pintor, ambientalista e pastor protestante. Ele se envolve numa série de crimes, incluindo desde falsificação de quadros até lavagem de dinheiro. Por enganar um bispo evangélico para a construção de uma igreja no Red Light (Luz Vermelha), em Amsterdã, passa a ser alvo de uma caçada internacional. O dinheiro avaliado em milhares de euros é convertido em drogas e orgias.

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