Venda de pescado cai cerca de 50% em Fortaleza

A pouco mais de 20 dias para a Semana Santa, a comercialização de peixe nos principais pontos de atacado e varejo em Fortaleza já apresenta redução nas vendas por conta da dinâmica da oferta e procura, quanto pelo aumento do preço do produto, quer de água salgada, quer da água doce. Ontem, os atacadistas do entorno do Mercado São Sebastião estimaram uma queda nos negócios neste período de até 50%, envolvendo principalmente tradicionais compradores como donos de restaurantes, administradores de hotéis e pequenos mercadinhos da periferia da Cidade.
A crise econômica faz com as pessoas saiam menos de casa para ir aos restaurantes, justifica o comerciante Francisco Antônio Cavalcante, proprietário da empresa Francisco Camocim, localizada na Rua Teresa Cristina. Ele conta que hoje quem dá sustentação ao seu negócio é o consumidor varejista.
"Não existe só uma razão para a queda nas vendas. São várias, na verdade. Uma delas é que a carestia tem feito com que o consumidor busque outras alternativas de alimentos, em substituição ao pescado", disse. Ao mesmo tempo que a demanda tem sido reduzida, a oferta de espécimes do mar ou da água doce também tem sido bem restritas. Francisco conta que a Quaresma sempre foi um indicador de como se comportaria o mercado até a Semana Santa. Ele crê que haverá um acréscimo de até 30% entre os tipos mais procurados, como a cavala e a cioba.
No caso da tilápia, que é produzida em gaiolas, em reservatórios, o comércio tem sido ainda mais complexo. Com os açudes secos e outros com suas reservas d'águas limitadas para o consumo humano, o peixe vem se tornando cada vez mais escasso e caro. Ontem, estava sendo vendido por R$ 12,00 na Rua Isabel Cristina, o que equivale até o dobro do comércio no Mercado do Carlito Pamplona, principal centro revendedor do produto na Capital, com valores variando de R$ 6,00 a R$ 8,00.
O comerciante Renato Pimentel, do Mercado do Carlito Pamplona, diz ser insustentável manter o valor de R$ 6,00 a R$ 8,00 o quilo do pescado até a Semana Santa, uma vez que será obrigado a importá-lo de outros estados, principalmente da Bahia e Paraíba. "Essa tem sido para nós a pior Quaresma, porque o preço alto afasta o consumidor".
Tradição religiosa
Francisco Salustino dos Santos, que foi buscar preços menores no São Sebastião, diz que o que ocorre atualmente não é apenas a especulação por conta da tradição religiosa, em optar pelo pescado neste período do ano.
Para ele, há uma crise real na economia que reduz todo o consumo, inclusive de alimentos, para algo em torno de 50%. "Sempre houve a carestia. Mas este ano, todos estão saindo perdendo, sobretudo o consumidor".
O engenheiro de pesca Breno Teixeira reconhece que a crise no comércio do pescado tem sido motivada por diferentes fatores. No caso da tilápia, há de se reconhecer, conforme diz, os efeitos da seca, que chega ao quinto ano. Com isso, os reservatórios secaram e os que ainda mantêm água, a Cogerh busca limitar a vazão para o consumo humano. "A Cogerh tem barrado a entrada de novos viveiros no Castanhão. Isso prejudica a produção local e faz com se que crie uma demanda do produto de outros estados", observ