Começa controle do uso de agrotóxico na Ceasa

O controle do uso de agrotóxico foi iniciado nas Centrais de Abastecimento do Ceará (Ceasa) com a instalação do escritório da Agência de Defesa Agropecuária (Adagri), mantida pela a Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA). Além do escritório, enquanto não se instala um laboratório para análise, a Adagri vai contar com recursos do Mapa para realizar exames dos produtos até o fim do ano, quatro vezes por mês, ao custo variável de R$ 800 a R$ 1.000.

O combate ao capim no transporte do abacaxi é uma prioridade da Adagri Fotos: José Leomar


O escritório resultou de uma promessa do titular da SDA, Nelson Martins, desde a publicação da primeira pesquisa de frutas e verduras encomendada pelo Diário do Nordeste, em 8 de dezembro do ano passado. Exame do Nutec revelou a existência de um agrotóxico proibido pela Anvisa, em produtos comercializados pela Ceasa, em Maracanaú. A equipe inicial da Adagri, que está atuando naquele equipamento, é composta pelos engenheiros agrônomos Fernando Feijão, Paula Andréia Bezerra e Pedro Mardem.

Desse modo, inspecionar produtos comercializados com uso de agrotóxicos proibidos e fiscalização com relação ao manejo adequado de frutas, legumes e verduras são os objetivos do escritório da Adagri na Ceasa. A atividade vem sendo desenvolvida desde julho passado com os três agrônomos, mas se projeta para que venha a contar com uma equipe multidisciplinar, incluindo biólogos e veterinários, além de um laboratório especializado em análise de substâncias encontradas em defensivos agrícolas de hortifrutigranjeiros.

Segundo Paula Andréia, os primeiros momentos da iniciativa têm sido verificar irregularidades no manejo de alimentos, especialmente frutas. Ela explicou que uma prioridade da Adagri é o combate a doenças como a sigatoka negra e a cochonilha-do-carmim, que atacam, respectivamente, o abacaxi e a banana, por conta de práticas inadequadas no transporte e acondicionamento dos produtos. "Nossa preocupação maior é o combate ao agrotóxico, mas isso ainda demandará tempo e dinheiro, uma vez que precisamos de recursos para realizar as análises e assim impedir o comércio de produtos contaminados", disse Paula.

No entanto, ela lembrou que a equipe já vem realizando palestras, distribuindo folhetos e concentrando os esforços na prevenção de doenças que já preocupam o Estado, ocasionadas pelo uso da folha de bananeira, que pode facilitar a incidência da sigatoka negra e o capim, provocando a cochonilha-do-carmim.

Para o agrônomo Fernando Feijão, há um longo caminho a ser percorrido para mudar hábitos e práticas nocivas à saúde. Daí entende que a Adagri está na direção certa em concentrar seus esforços na prevenção e conscientização dos permissionários e transportadores, em seguida, na análise de produtos com um laboratório especializado, aplicando multas em casos de desobediência às normas de boa conduta sanitária.

Ação prática

O escritório da Adagri é a primeira ação prática desde a denúncia publicada pelo Diário do Nordeste sobre o uso de agrotóxicos proibidos pela Anvisa. A decisão foi tomada também por provocação da então procuradora, da Procuradoria Geral de Justiça (PGJ), Sheila Pitombeira, que requereu ao Ministério Público uma investigação sobre o caso.

Mesmo com a publicação de uma segunda pesquisa, no dia 25 de maio passado, quando se isentou os produtos orgânicos da presença de substâncias nocivas à saúde, não houve manifestação do Ministério Público. "Agora, seremos didáticos explicando como se deve manejar os produtos e ensinando que cada defensivo agrícola possui uma cultura própria. Ou seja, o uso não pode ser disseminado e aleatório", disse Fernando Feijão.

Técnicos alertam para riscos de manejos ilegais

Maracanaú. Além dos danos causados pelo uso de capim no transporte do abacaxi, uma atenção especial dos técnicos da Adagri é com relação à folha de bananeira. O resíduo produz ainda mais sujeira no interior da Ceasa e, principalmente, é considerado como o vetor de um fungo que causa a doença denominada de sigatoka negra.

Fernando Feijão e Paula Andréia fiscalizam práticas inadequadas, como o uso de palha no transporte de banana. O resíduo gera o fungo causador de doenças


O agrônomo Pedro Marden explicou que alertar os permissionários e os transportadores sobre esse risco foi uma das demandas solicitadas pela direção da Ceasa. A preocupação é que essa doença, que inexiste no Ceará, vem acontecer, causando grandes prejuízos para os produtores, em vista do que já aconteceu em outras regiões do País.

Portanto, os técnicos ensinam que, no trânsito e no comércio de bananas, não se deve utilizar caixas de madeiras já usadas e nem as folhas de bananeiras como material de proteção ou acondicionamento das cargas.

O fato é que se o uso de agrotóxicos acontece sem medidas efetivas de repressão, o manejo inadequado de hortifrutigranjeiros é um hábito reconhecidamente de difícil mudança.

Mas isso acontece não por falta de legislação pertinente. Alguns pontos estabelecidos nas instruções normativas Nº 17, de 31 de maio de 2005, Nº 37 e Nº 38, de 17 de novembro de 2006, da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e na lei estadual 14.145, de 25 de junho de 2008, proibem a entrada e o trânsito no Ceará de folhas e partes de bananeira e hortaliças, material de proteção ou acondicionamento de quaisquer cargas, além de proibir transporte, trânsito e comércio de banana em cachos e caixas usadas de madeira.

Apesar de leis em vigor e da fiscalização da Adagri, é muito fácil que a obediência está distante. A sujeira e os riscos à saúde dos materiais utilizados para transporte tanto da banana, no caso a palha, quanto o capim, no caso do abacaxi, são explicados pelos transportadores como a forma mais econômica e prática de proteção, tanto nas carrocerias dos caminhões, quanto no acondicionamento no solo, enquanto se aguardam os compradores atacadistas de Fortaleza e Municípios vizinhos.

Para o comerciante José Almir, a folha de bananeira é a melhor forma de proteger o fruto do sol, em vista de ser um produto bastante perecível. Outro comerciante entende que substituir o capim por grades de plásticos diminui a carga e, consequentemente, alteraria o preço final na ponta.

Para os técnicos da Adagri, são atitudes como essas que, mais cedo ou mais tarde, terão que ser mudadas, a exemplo do que acontece ainda nos dias de hoje com o uso indiscriminado de agentes agrotóxicos. De todo modo, elogiam que já se deu um passo importante para que a Ceasa possa ser uma referência de comercialização de alimentos verdadeiramente sadios.

Equipe

3 agrônomos estão atuando na Ceasa, mas a perspectiva é de se contar com uma equipe multidisciplinar, incluindo biólogo e médico veterinário

Mais informações:

Centrais de Abastecimento do Ceará (Ceasa)
Avenid Dr. Mendel Steinbruch, S/N - Pajuçara, Maracanaú
Telefone: (85) 3299-1200

MARCUS PEIXOTO
REPÓRTER

Marcus Peixoto

Bruno Prior é pintor, ambientalista e pastor protestante. Ele se envolve numa série de crimes, incluindo desde falsificação de quadros até lavagem de dinheiro. Por enganar um bispo evangélico para a construção de uma igreja no Red Light (Luz Vermelha), em Amsterdã, passa a ser alvo de uma caçada internacional. O dinheiro avaliado em milhares de euros é convertido em drogas e orgias.

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