Dnocs evitou agravamento da desertificação no Nordeste

 

Fortaleza. Em meio à denúncias de extinção e crise estrutural, o diretor geral Emerson Fernandes afirma que o Dnocs ainda é a referência de como tem sido possível conviver com a seca. No ano em que mais do que nunca o órgão vem sofrendo ataques, lembra que o quadro desfavorável de chuvas colocou em prova as ações do órgão voltadas para todos os estados nordestinos e, em particular, o Ceará.


A irrigação na Chapada do Apodi se diversificou entre a produção de grãos, com a ajuda do pivô central, até aos variados tipos de frutas FOTO: RODRIGO CARVALHO

Apesar da atuação em dez estados brasileiros, somando os nove do Nordeste (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Alagoas e Sergipe) e mais dois do Sudeste (o norte de Minas Gerais e o Espírito Santo), situados no semiárido, é no Ceará que o Dnocs se torna mais expressivo. É neste Estado que está o maior açude do País, o Castanhão, bem como também o primeiro a ser construído no enfrentamento da seca, que foi o Cedro, em Quixadá, remontando ao período imperial, quando as secas já penalizavam o semiárido brasileiro, muito antes do reconhecimento dessa denominação técnica.

Coube ao Ceará contar com boa parcela dos cerca de 4 milhões de quilômetros de rios perenizados, considerando que esse número total é quase o dobro do tamanho do projeto de transposição do Rio São Francisco.

No entanto, a ação do órgão é considerada ainda mais importante na implantação dos projetos de cultura irrigada no Estado. Dos 37 perímetros irrigados instalados no Nordeste, 14 foram no Ceará, sendo que a área beneficiada soma mais de 60% de toda a região, com 39,7 milhões de hectares, e com mais 6 milhões de hectares de terras viáveis para a expansão do projeto.

O diretor de Desenvolvimento Tecnológico e Produção, mantido pelo Dnocs, Laucimar Gomes Loiola, reconhece que essa atividade não foi importante apenas para evitar o êxodo rural, mas levar, principalmente, o desenvolvimento para o interior. Ele lembrou estudos do Banco Mundial, que comprovam a relação da implantação da cultura irrigada e o desenvolvimento regional. "Hoje, não temos mais um agricultor voltado para uma economia de subsistência. Mas sim um pequeno ou médio empresário", disse Laucimar. O sucesso da experiência na região tem criado uma expectativa de ampliação dos projetos.

Exemplo disso acontece no Perímetro Irrigado de Jaguaribe-Apodi. Instalado no município de Limoeiro do Norte, a 110 quilômetros de Fortaleza, a cultura teve um passo inicial com o cultivo de grãos por meio da irrigação por pivô central.

Com as exigências de mercado e também pela necessidade de se apresentar produtos mais competitivos, os irrigantes migraram para a fruticultura e para a micro-irrigação. Com outros perímetros, a produção cearense já é responsável por 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, o que representa uma movimentação de recursos da ordem de R$ 230 milhões. Com a seca no anopassado, chama a atenção também uma particularidade nas áreas de irrigação. Na Chapada do Apodi, os agricultores passaram a cultivar o sorgo, com a finalidade de alimentar o rebanho. Essa alternativa, conforme destaca Laucimar, foi uma boa sacada de mercado por parte dos agricultores, haja vista a falta de sustentabilidade para ração animal decorrente da seca em 2012. Ele lembra que, por essa experiência e outras parecidas, já vem se cunhando a expressão "pecuária irrigada". Assim, considera igualmente importante que, na atualidade, diferentes segmentos atuem em favor de uma economia, ao contrário de se esperar, como no passado, que o produtor fosse responsável por quase tudo: forragem, pastagem, tratamento dos animais e outros.

Atendimento

"Hoje, os perímetros irrigados atendem cerca de 230 mil pessoas em todo o Nordeste", afirma Emerson Fernandes. Na sua opinião, são exemplos de que o Dnocs esteve no caminho certo no enfrentamento das dificuldades enfrentadas no semiárido, em que o êxodo e o desmonte econômico do meio rural foram contidos no presente.

Para Laucimar, a tendência é que se aposte muito mais na agricultura irrigada, tanto pela retomada da economia no interior, como também por oferecer postos de trabalho para o homem do campo. Conforme diz, o custo com um trabalhador rural é até duas vezes menor do que aquele que atua na área urbana.

Para os diretores, o Dnocs está longe de seu fim. Se houve no passado uma tentativa para até mesmo mudar o nome (ou seja, ao invés de "combate à seca" se dizer "conviver com a seca"), isso seria apenas uma questão de semântica. Assim, a denominação original faz parte do patrimônio histórico.

MARCUS PEIXOTO
REPÓRTER


Dilma quer obras para enfrentar a seca

Fortaleza/Cariré.
 A seca no Nordeste, considerada a maior dos últimos 40 anos, motivou a presidente Dilma Rousseff a pedir aos ministérios que indiquem obras de enfrentamento do problema, a serem inauguradas na região em janeiro e início de fevereiro. O calendário de visitas será marcado, também, por reuniões com os governadores dos estados e o anúncio de ações a serem lançadas para minimizar o impacto social do fenômeno climático. Emerson Fernandes informou que no Ceará deverão ser inaugurados os açudes Taquara e o Figueiredo.


A barragem Taquara, em Cariré, ainda não inaugurada, com 320 milhões de metros cúbicos, tem sido uma solução para o abastecimento hídrico da região de Sobral, beneficiando as comunidades locais FOTO: WELLINGTON MACEDO

O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, solicitou ao Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) a indicação das obras a serem incluídas na agenda presidencial de inaugurações. Segundo ele, o Governo Federal possui uma carteira de obras hídricas no Nordeste de mais de R$ 20 bilhões. Do total, segundo ele, para cada real do investimento colocado na transposição do Rio São Francisco, pelos menos R$ 2 vão para outras obras hídricas no Nordeste.

A seca, de acordo com Fernando Bezerra, desestruturou a base de produção no semiárido, que depende sobretudo de chuva, da criação de ovinocaprinocultura, produção de leite bovino e os agricultores que vivem do milho e feijão. "Praticamente não ocorreu safra alguma neste último ano", disse o ministro. Em Pernambuco, Dilma Rousseff irá definir a melhor data para marcar presença na chegada da água do Rio São Francisco, pela Adutora do Pajeú a Serra Talhada, município de 80 mil habitantes, ameaçado de colapso no abastecimento hídrico.

PAC

O Dnocs, responsável pela obra, incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), indicou o período entre os dias 25 e 31 de janeiro para a inauguração do trecho de 118Km.

A primeira etapa da adutora tem 197km e vai até Afogados de Ingazeira, com atendimento às sedes de seis municípios de Pernambuco e dois distritos com 173 mil habitantes.

No Ceará, o Dnocs indicou para inauguração a barragem de Figueiredo, de 520 milhões de metros cúbicos, em Alto Santo, um investimento de R$ 110 milhões, concluída, mas que ainda não captou água.

Também a barragem Taquara, em Cariré, ainda não inaugurada, com 320 milhões de metros cúbicos, tem sido uma solução para o abastecimento hídrico da região de Sobral.

Fernando Bezerra disse que a presidente Dilma tem acompanhado de modo permanente e com ações de governo os efeitos da estiagem, por meio de um conjunto de obras e medidas assistenciais como a Bolsa Estiagem e o Seguro Safra, operações de carro-pipa, distribuição de cisternas e recuperação de poços. De acordo com o ministro, a seca foi o tema de duas reuniões da presidente Dilma com os governadores do Nordeste, uma em Aracaju e outra em Salvador.

Benefício

De acordo com o prefeito de Cariré, Antônio Rufino Martins, a construção do Açude Taquara foi um grande avanço para o município, beneficiando a 30% da população. "Nas últimas chuvas, o nível da água aumentou em 13cm, aumentando a qualidade da água. No período chuvoso anterior, quando o açude chegou a quase 60% da capacidade, várias espécies de peixe surgiram, e hoje são pescados pela população. Nesse época de seca, foi graças ao açude que o município pode-se manter estável quanto ao abastecimento de água".

Para melhorar o acesso da população, o prefeito ressalta ainda que o Governo Federal está asfaltando o acesso da estrada que leva até o açude. Para a estudante Erinilce Coelho Gomes, foi graças ao Taquara que não houve racionamento de água nem na cidade, nem nos distritos. "Principalmente nos distritos e localidades o benefício foi imenso, tanto para abastecimento quanto para pesca".

Além disso, o Ceará receberá 26.228 cisternas de polietileno, por meio do Dnocs. Ao total, mais de 131 mil pessoas serão beneficiadas com o reservatório, garantindo o acesso à água de qualidade em 25 cidades do Estado. Das 60 mil cisternas, 26.228 mil serão destinadas ao estado do Ceará (25 cidades), 12 mil à Bahia (9 cidades), 10 mil serão entregues em Minas Gerais (19 cidades), 5.772 irão para Pernambuco (12 cidades), quatro mil chegarão na Paraíba (10 cidades) e duas mil no Rio Grande do Norte (duas cidades). A previsão de entrega das 60 mil cisternas para o órgão é maio. Já a conclusão dos serviços é dezembro de 2013.

MARCUS PEIXOTO/JÉSSYCA RODRIGUES
REPÓRTER/COLABORADORA

 

Marcus Peixoto

Bruno Prior é pintor, ambientalista e pastor protestante. Ele se envolve numa série de crimes, incluindo desde falsificação de quadros até lavagem de dinheiro. Por enganar um bispo evangélico para a construção de uma igreja no Red Light (Luz Vermelha), em Amsterdã, passa a ser alvo de uma caçada internacional. O dinheiro avaliado em milhares de euros é convertido em drogas e orgias.

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