Festa das Almas reune o sagrado e o profano


Ocara. No primeiro momento, procissão, missa e a visitação nos túmulos do cemitério municipal. Num outro, o forró dá o tom da alegria, quebrando toda a gravidade e a melancolia que o dia 2 de novembro causa para parentes e amigos dos entes mortos. Assim é a Festa das Almas, em Ocara, a 101 quilômetros de Fortaleza, que teve início na noite do dia 1º e foi encerrada na madrugada de ontem.

Procissão pelas ruas centrais da cidade faz parte da principal programação religiosa do Dia de Finados, que é uma referência para a região FOTO: EDUARDO QUEIROZ

O evento, que reúne elementos representativos do sagrado e do profano, acontece anualmente sempre na véspera do Dia de Finados, e já próximo de completar um centenário, se tornou uma referência de demonstração do vigor da Igreja Católica e espaço para o entretenimento, tornando-se uma referência para a região Central do Estado.

A secretária de Cultura, Esportes e Juventude do município, Auricélia Alves, diz que a estimativa de público para a festa fica acima de 30 mil pessoas.

"É um momento festivo, que se originou de uma mobilização da comunidade católica e hoje é uma referência de festa, atraindo pessoas dos mais diferentes lugares", disse Auricélia.

Atrações

Desse modo, a secretária disse que é uma atividade que não para de crescer e, por isso, recebe uma atenção especial da Prefeitura, sentido de dotar a cidade dos meios necessários para atender o público.

A primeira atração da noite foi a banda Os Solteirões do Forró. Em seguida, se apresentou o músico e filho da terra Robertinho do Acordeón e o encerramento ficou com a banda Forró Pé de Ouro.

Do religioso até o lazer garantido pelos shows musicais, não há como não passar pela visão política e econômica que a festa proporciona para toda a população local e de cidades vizinhas.

Para Auricélia, o apoio político é fundamental para o sucesso da iniciativa, a ponto de haver um compromisso do gestor, mesmo para um ano difícil, em que a seca penalizou fortemente a principalmente economia do lugar, que a colheita do caju.

Já no aspecto econômico, há toda uma movimentação de comerciantes que cedo chegam a Ocara, para a venda de comidas e bebidas e, agora, sendo um importante referencial do varejo para os setores de confecção e calçados. As vendas acontecem em lojas bem estruturas e, sobretudo, em feiras livres.

Quem aproveita bem o comércio de comidas e bebidas é o casal Maria do Carmo e Edilson Tavares Marinho, de Quixadá. Como acontece há quatro anos, chegaram a Ocara trazendo carne de sol desfiada, caldo de carne, arroz e creme de galinha e, obviamente, cerveja em lata e refrigerante. Marinho diz que chegou muito próximo a faturar o dobro do que investiu na compra dos produtos. "É o tipo de negócio que ganhamos dinheiro e, principalmente, nos divertimos muito", afirmou.

História

O pároco de Ocara, padre Maurício Lopes, explica que a Igreja Católica está imbuída em resgatar a espiritualidade dessa manifestação, que passou por alterações históricas desde a sua concepção na década de 1920.

"Não concordo com essa divisão entre sagrado e profano. Entendo que ambos aspectos se misturam", salientou o sacerdote. Contudo, admite que a religiosidade ficou esquecida algum tempo, quando a ênfase era a festa que acontece na Praça Bento Evangelista. "As pessoas costumam reclamar que os padres não costumam visitar os cemitérios. Há quatro anos, quando vim para cá, resolvi fazer diferente", contou Maurício Lopes.

O pároco foi além das visitações. Articulando as pastorais e os grupos de casados e de jovens, fez com que se retomasse o espírito original, que foi concebido pelo agricultor João Correia Dodó.

Naquela época, sem energia elétrica e sem aglomeração urbana que a cidade vive nos dias de hoje, Dodó não se conformava que o cemitério local não tivesse um muro. Daí resolveu promover leilões, com prendas doadas pelos moradores.

Com o dinheiro arrecadado, foi construído o muro, que depois se desmoronou e apenas uma parte foi preservada para registro histórico. Um outro muro foi reconstruído, ao mesmo tempo em que as procissões foram suspensas, quando a festa já era associada com atrações musicais e atraindo multidões.

Ressurreição

Padre Maurício não reprova o aspecto lúdico que acontece no Dia de Finados. Ele próprio se mistura com o público que assiste e participa alegremente das apresentações artísticas.

No entanto, quando se pronuncia na homilia, é categórico em enfatizar o evangelho como o norte para o cristão. "Não devemos lamentar a morte, porque Cristo nos deu a certeza da ressurreição", ressaltou.

Disse que o cristão não deve chorar a morte, mas agradecer a vida eterna. "Os mortos não precisam de preocupação, porque chegaram à vida eterna. Não precisam de fé e esperança, porque já estão na presença de Deus pai", frisou.

A manifestação religiosa também é bem aceita pelo padre da igreja ortodoxa Raimundo Maria. "Essa é iniciativa que tem a marca da evangelização, daí que temos louvar e render graças", disse. Para ele, o cristão cumpre o mandato estabelecido por Jesus Cristo.

A multidão que chega a cidade nesse período assusta a comunidade. Há sempre o medo de se agravar os problemas da marginalidade, como roubos, assaltos e comércio de drogas. Para o comerciante José Valdevino de Sousa, a preocupação agora passa a ser a necessidade de se contar com um policiamento mais ostensivo.

Mais informações:

Prefeitura de Ocara
Secretaria de Cultura, Esportes e Juventude
Av. Cel João Felipe, 239
Telefone: (85) 3322.1088

MARCUS PEIXOTO
REPÓRTER

Marcus Peixoto

Bruno Prior é pintor, ambientalista e pastor protestante. Ele se envolve numa série de crimes, incluindo desde falsificação de quadros até lavagem de dinheiro. Por enganar um bispo evangélico para a construção de uma igreja no Red Light (Luz Vermelha), em Amsterdã, passa a ser alvo de uma caçada internacional. O dinheiro avaliado em milhares de euros é convertido em drogas e orgias.

Livro impresso: R$ 31,23
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