Seduc defende bolsa para elevar interesse pela Ciência

Fortaleza. Há quem critique o método dos incentivos. Há quem defenda a iniciativa até por entender que o momento é de se recorrer a todas as ferramentas de modo a colocar o País nos trilhos do aprendizado avançado e da pesquisa científica.

Iniciativa do MEC quer disseminar o estudo científico, como acontece em escola pública de Cascavel

Em meio às opiniões destoantes, o Ministério da Educação (MEC) informou, neste mês, o pagamento de uma bolsa de R$ 150 para estudantes do ensino médio das escolas públicas que tiverem interesse nas áreas de ciências exatas e biológicas. O benefício, conforme informou a assessoria do Ministério, tem início a partir de fevereiro do próximo ano.

Segundo o MEC, o total de carência de docentes em áreas de Química, Física, Biologia e Matemática chega a 170 mil em todo o País. Denominado de Quero Ser Cientista, Quero Ser Professor, o programa, espécie de iniciação científica na educação básica, objetiva despertar o interesse dos jovens por Matemática, Física, Química e Biologia. A ideia é aumentar o número de universitários nessas áreas, consideradas carentes de docentes.

A Secretaria da Educação do Estado do Ceará (Seduc) apoia a iniciativa do MEC. Para o assessor técnico da coordenadoria mantida pela Divisão de Desenvolvimento da Escola e da Aprendizagem da Seduc, Daniel Vasconcelos Rocha, a medida concorre com mecanismos para fazer com que o País avance no desenvolvimento tecnológico e na pesquisa.

Estratégia

Para ele, trata-se de uma estratégia para somar com as demais para despertar o interesse dos jovens por Matemática, Física, Química e Biologia e, assim, aumentar o número de universitários nessas áreas, carentes de docentes. Na sua avaliação, todo o esforço dos Estados brasileiros é diminuir as barreiras tradicionais que separam boa parte dos alunos dos cursos da área.

Pesquisa não oficial revela que mantendo o alto desempenho docente, faltarão professores nos cursos de Ciências da Natureza nos próximos cinco anos e a falta de docentes tanto ocorre na Capital, quanto nos 184 municípios cearenses.

O fato é que há uma necessidade real de professores das áreas de Ciências, que seriam, no mínimo de 1900 professores para a rede do ensino médio. No entanto, a Seduc explica que esse número não representa a real necessidade do Estado, haja vista que não dá para relacionar as vagas que estão sendo ocupadas com os temporários com as demandas, por conta de situações peculiares para a inclusão dos temporários. Ou seja, nem todas as carências temporárias geram vagas, já que há situações de licenças, afastamento para estudos e ocupação de cargos.

Insuficiente

A rede estadual é composta por 687 escolas, com atendimento a mais de 500 mil alunos. A exemplo de outros Estados, o princípio atrativo para suprir a demanda é a realização de concurso público. O último realizado nomeou mais de 3 mil professores. Mesmo assim, foi insuficiente. Esse ano, um novo concurso está em andamento com a oferta de 3 mil vagas. A quantidade de professores de Ciências (Biologia, Química e Física) nas escolas soma 5.574.

Segundo Daniel, o Ceará já vem desenvolvendo várias ações na área da educação científica, "pois acredita na pesquisa como princípio pedagógico na aquisição do conhecimento, na integração dos conteúdos e na autonomia dos estudantes envolvidos com objetos escolares, na perspectiva de protagonismo juvenil", afirma.

Crítica

As ações no setor destacadas pelo órgão são captação de bolsas, inclusive do CNPq, para apoiar os estudantes das escolas na monitoria e no desenvolvimento de projetos escolares; e realização de chamada pública para professores da rede estadual atuarem como formadores, recebendo bolsas de desenvolvimento e capacitação entre docentes, através do Projeto Professor Aprendiz. Para a diretora do Sindicato Unificado dos Professores de Fortaleza (Sindiute), Gardênia Bayma, a iniciativa está longe de ser solução para a defasagem e estímulo tanto na oferta docente quanto na aprendizagem. Segundo ela, o ensino de Ciências, além de outras disciplinas curriculares obrigatórias, deixa a desejar não só por falta de profissionais habilitados mas pela ausência de condições para o desenvolvimento do ensino aprendizagem nessa área.

"Ao invés da bolsa, todas as escolas poderiam ser dotadas de laboratórios e de atividades que incentivassem o aluno a estudar acrescendo o currículo com a mesclagem de atividades teóricas e práticas", diz a diretora do Sindiute.

"A bolsa despertaria o real interesse pela disciplina ou pela ajuda financeira?", indaga. E ela mesmo responde: "o crescimento do aluno vem do prazer da descoberta, da experimentação e do oferecimento do conteúdo que será por ele processado. A combinação para o interesse do aluno obedece a seguinte fórmula: Professor habilitado mais condição para fornecer um ambiente de aprendizagem mais vontade política para a promoção do ensino publico, gratuito e de qualidade", afirma Gardênia.

Com a bolsa, a intenção do MEC é ter 30 mil bolsistas no primeiro ano. A meta está em 100 mil nos anos seguintes. Os estudantes selecionados teriam jornada extra na escola, participando de aulas especiais e projetos de pesquisa supervisionados por professores, que também receberão bolsa. O trabalho seria supervisionado. Universidades federais farão tutoria com o objetivo de supervisionar o programa. Além desse incentivo, além da bolsa, a ideia do Ministério é tornar o currículo do ensino médio, hoje extremamente inchado, mais flexível.

A intenção é que tenha uma carga horária básica mínima e uma parte em que o estudante possa se dedicar mais às disciplinas que o interessem mais e sirvam de base para uma futura formação profissional.

FIQUE POR DENTRO

Programa quer incentivar vocações

O programa Quero ser Cientista, Quero ser Professor será direcionado aos estudantes do ensino médio das escolas da rede pública, com objetivo de estimular o interesse e a vocação nas disciplinas de matemática, química, física e biologia. Para obter o benefício, os estados terão que fazer adesão à iniciativa.

Segundo o ministro Aloizio Mercadante, durante o lançamento do programa, Matemática, Química, Física e Biologia são áreas que a demanda no ensino superior é muito baixa, em torno de 3% de matrículas. "As engenharias cresceram, passaram direito. Mas matemática, física e química não crescem", disse o ministro.

O MEC ainda prevê a distribuição de um kit chamado Aventuras na Ciência, que terá materiais de matemática, física, química, biologia e astronomia. De acordo com o ministro, cientistas brasileiros são responsáveis pelo kit.

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) concede atualmente 10 mil bolsas do Programa de Iniciação Científica Júnior. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) vai oferecer outras 30 mil, com início previsto para 2014. O investimento inicial será de R$ 54 milhões no primeiro ano. As bolsas de iniciação júnior serão prioritariamente concedidas a estudantes do ensino médio.

Crise tecnológica tem raízes históricas

Fortaleza. A defasagem não apenas na pesquisa, mas no ensino, é explicada apressadamente pelo tipo de colonização imposta ao Brasil. Dominado por portugueses, que tinham o suporte intelectual dos padres da Companhia de Jesus, houve desde o princípio uma valorização das Humanidades, em um período da história, que cientistas eram condenados pela inquisição.

Além de estimular os alunos com o pagamento de uma bolsa, o programa do governo federal também vai distribuir kits de ciências, criados por pesquisadores brasileiros, a fim de aparelhar laboratórios de escolas da rede pública do ensino médio

O deputado federal Ariosto Holanda reconhece que o Brasil, em relação à Educação, tem uma dívida de 500 anos. "Demoramos muito tempo para descobrir a importância do ensino técnico e tecnológico no desenvolvimento do País. Herdamos uma cultura onde escola técnica era para classe pobre trabalhadora", disse o parlamentar.

As primeiras escolas técnicas tinha o nome de escolas para artífices. As famílias preferiam um nível superior desempregado a um nível médio empregado. Por sua vez, como salienta Ariosto, o modelo de desenvolvimento, de reserva de mercado, que o Brasil adotou até a década de 1990, acarretou um brutal atraso tecnológico do País.

"Em 1993 foi realizada uma CPI que procurou identificar as causas e dimensões desse atraso tecnológico. Participei ativamente dessa comissão parlamentar de inquérito; identificamos com muita clareza que a principal causa estava na degradação da base educacional o país; além do elevado número de analfabetos, não havia escolas profissionalizantes; só existiam as escolas técnicas federais em número bastante reduzido (120 escolas), lembra Ariosto.

Enquanto nos países desenvolvidos havia uma relação considerada ótima de um técnico de nível superior para cinco técnicos de nível médio, no Nordeste essa relação estava invertida: eram quatro profissionais de nível superior para um técnico de nível médio.

Demanda

"São as carreiras técnicas e tecnológicas que demandam o estudo das ciências como Matemática, Física, Biologia e Química", salienta. Ele observa que, como essas profissões nunca foram prioritárias, ênfase foi dada às carreiras de humanas. Em suma, não existia praticamente demanda em quantidade para os profissionais de ciências.

O agravamento desse problema aconteceu em meados da década de 2000. Com a chegada da internet e da globalização, o Brasil se deparou com a realidade do seu atraso tecnológico e analfabetismo funcional, como recorda Ariosto.

"Em 2003, o governo partiu para diminuir essa disparidade e resolveu triplicar o número de escolas técnicas, hoje transformadas em institutos federais, e criar diferentes cursos nas áreas das engenharias. Nesse momento nos deparamos com um problema real: não existe número suficiente, no país, de professores daquelas quatro disciplinas para atender a demanda reprimida", ressalta.

Para o parlamentar, o que o governo procura fazer, nesse momento, é definir mecanismos de atração para os cursos de Ciências. Outra alternativa defendida seria atrair engenheiros para ensinar essas disciplinas dispensando-os da obrigação dos cursos de pedagogia, já que se trata de emergência, e esses profissionais dominam as matérias.

MARCUS PEIXOTO
REPÓRTER

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Marcus Peixoto

Bruno Prior é pintor, ambientalista e pastor protestante. Ele se envolve numa série de crimes, incluindo desde falsificação de quadros até lavagem de dinheiro. Por enganar um bispo evangélico para a construção de uma igreja no Red Light (Luz Vermelha), em Amsterdã, passa a ser alvo de uma caçada internacional. O dinheiro avaliado em milhares de euros é convertido em drogas e orgias.

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